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“ESG não é um check-list, cada empresa tem a sua forma de implementar o programa”, disse João Redondo em evento da ABRH-PR

A Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR) realizou no dia 11 de julho o “Boa Tarde RH: ESG na Agenda dos RH’s”. O evento reuniu cerca de 100 pessoas, no centro de convenções do CIETEP/FIEP. Os painelistas foram: Gino Oyamada (Sócio-fundador da 3G Governança, Gestão e Gente); Gustavo Nadalin (Advogado e Membro do Comitê Executivo do Programa Integridade Tricolor no SPFC); e João Redondo (Managing Partner MR Consultoria Conselheiro de Administração e Sócio-Diretor na MR Consultoria). A moderação foi feita pelo conselheiro da ABRH-PR, Yoshio Kawakami.

 

Antes de iniciar o painel houve a entrega de doações ao Pequeno Cotolengo representado pela Gestora de Governança Corporativa, Elisa Maria de Souza, e a Gestora de RH, Daniela Picinini. É uma parceira institucional da ABRH-PR, firmada convênio viabilizado pelos conselheiros Tobias de Macedo e Rodrigo Titon. Durante o evento também houve a homenagem ao presidente do ISAE (Instituto Superior de Administração e Economia), Norman Arruda Filho, pela sua contribuição com a temática ESG no mundo acadêmico e empresarial. “Um agradecimento pela capacidade da ABRH-PR de trazer à tona, temas do dia a dia das organizações. O ESG faz parte da nossa agenda, especialmente com esses painelistas tão reconhecidos”, disse Norman Filho.

 

A abertura oficial foi feita pelo presidente da ABRH-PR, Gilmar Andrade, que deu as boas-vindas e agradeceu a presença dos convidados e conferencistas.

 

“O ESG não é um check-list”

Primeiro a falar, João Redondo lembrou que trabalha com o tema desde 1999, quando ainda eram novidades os termos logística reversa e economia circular. A sustentabilidade é ainda mais ampla que o ESG, que é uma pauta que surgiu no dia a dia das empresas, ligada à Governança Corporativa. “Não é um check-list, cada empresa tem a sua forma de trabalhar a respeito”, disse Redondo. A Governança Corporativa se torna o catalisador de todo o processo, garantindo que ele se mantenha, evolua e se solidifique a cada novo ciclo.

 

Redondo sustentou que o ESG é uma agenda de colaboração, uma vez que sua atuação é transversal nas organizações. “O ESG deve estar fortalecido no negócio, o desempenho sócio ambiental deve fazer parte da cultura da companhia”. Para ele, trabalhar cultura organizacional é trabalhar o indivíduo. “Quem toma decisão não é o CNPJ, mas o CPF. Precisamos dar subsídios para esses profissionais”, disse.

 

O ESG é uma agenda cultural e de longo prazo. A pauta surge e avança nas organizações por três tipos de movimentos internos: convicção, conveniência ou constrangimento. Por qualquer um desses movimentos, Redondo defendeu que o RH deve assumir o papel de agente transformador nas companhias, identificando o poder de transformação cultural das pessoas na organização. “É preciso um profissional ou um time que responda pelo ESG, que tenha acesso ao CEO e que ele mesmo compre a ideia. É uma agenda de 10 anos, que exige processos e formalização”, pontuou Redondo.

 

Em sua fala, Redondo reforçou a importância do RH olhar para a empresa e identificar um perfil de liderança diferenciado. O ESG é um desafio de longevidade, permeado pela cultura e o código de conduta da companhia, buscando interesses coletivos e não pessoais. “É o exemplo que arrasta as pessoas. Se você tem incoerência para dentro, você não captura para fora”, finalizou.

 

“Menos compliance, mais integridade”

Esta foi a sustentação da fala do Advogado Gustavo Nadalin, o segundo a participar do evento da ABRH-PR. Nadalin trouxe aos presentes a realidade da gestão de compliance no universo do futebol, reconhecidamente um ambiente machista, desagregador e com questionamentos jurídicos em relação ao uso do dinheiro.

 

A paixão virou profissão. Torcedor do Coritba Foot Ball Club, Nadalin desde cedo se envolveu na política interna como sócio. Acabou ingressando formalmente no clube como Diretor Jurídico, em 2008, saindo da ocupação em 2019. “Eu queria entender como funcionava os bastidores do futebol e logo no início do trabalho lidei com um dilema ético, que envolvia a contratação de um jogador e as formas de registrá-lo e remunerá-lo. Aí eu percebi que teria que lidar com um universo distinto do que estava acostumado, resguardando o clube em decisões futuras”, afirmou.

 

Nesse período em que esteve no clube, Nadalin percebeu que como Diretor Jurídico a sua maior responsabilidade não era apenas e legislação, mas a atuação com os profissionais. “Logo vi que eu não teria que lidar com Direito e a lei, mas com as pessoas. Foi então que me abracei com o RH”. E todas as pessoas têm algo em comum: a paixão pelo clube. “As empresas gastam milhares para criar um propósito, enquanto em um clube de futebol, isso simplesmente existe, é o amor pela camisa. Percebi que nós tínhamos esse engajamento no Coxa e não conseguíamos aproveitar”, relatou Nadalin. Assim, ele trilhou um caminho diverso, em que cuidava do jurídico e fazia um meio de campo para criar uma cultura de pessoas.

 

Em sua gestão, Nadalin desenvolveu o “Programa Conduta Coxa Branca”, que é um projeto de compliance implementado conforme a realidade do clube paranaense. “Como profissional jurídico, o meu limite é a legalidade. O programa vem atender desde pequenas situações de condutas até problemas mais sérios. Por isso, a importância de entender o negócio, ao invés de implementar algo já engessado”, explicou. Um dos exemplos citados pelo advogado foi a alta procura do canal de comunicação interno, citando situações de assédio moral e sexual. “O assédio é visto como uma brincadeira, constrangendo a vítima. Achamos um meio de constranger os abusadores, lançando uma campanha para fortalecer a vítima”.

 

Por fim, Nadalin reforçou a importância do RH como um alicerce para a manutenção das práticas internas. Falou sobre a realização de treinamentos contínuos da base ao Conselho. Também, sobre o início do reconhecimento por parte dos clubes da agenda do ESG, em virtude da Lei 14.193/21, que regulamenta o clube-empresa. “Os investidores não querem saber se o seu dinheiro foi aplicado em uma associação, fundação, empresa Ltda. ou S.A. O que interessa é a segurança jurídica e a possibilidade de retorno, financeiro ou de imagem”, concluiu Gustavo Nadalin.

 

 

 

“O ESG está na veia, na pauta e na ordem do dia”

Último a falar, Gino Oyamada trabalha há sete anos com Governança Corporativa, após uma carreira bem sucedida no mercado financeiro. “É um tema fascinante, para quem acha que é modismo, eu vou desmistificar isso”, iniciou sua palestra. Para ele, o ESG está na veia, na pauta e na ordem do dia – e não tem como ser diferente.

 

Para exemplificar sua opinião, Oyamada citou o case da Aegea, a maior empresa de saneamento privado do país, que opera em 162 cidades no Brasil. A Aegea atua por meio de concessões plenas ou parciais, subconcessões e parcerias público privadas em todo o processo do ciclo integral da água. Ou seja, abastecimento, coleta e tratamento de esgoto. “É um negócio de altíssimo impacto social”, reforçou Oyamada.

 

Ele contou de forma resumida como foi o processo de captação de investimentos internacionais, em que o ESG foi fundamental para o sucesso da empreitada. “Não acontece da noite para o dia, é cultura organizacional. São anos falando de licença social, impacto social e diversidade”, disse. A contrapartida da Aegea para o mercado é a redução em 7% do consumo de energia, aumentar em 38% a presença de mulheres e em 22% a de negros até 2025. “É um compromisso que se assume, o não cumprimento, custa dinheiro”, complementou.

 

Oyamada entende que a sustentabilidade econômica tem que estar na agenda e as companhias precisam gerar condições para que se consiga estabelecer um programa. Segundo dados da Climate Bonds Initiative, no relatório “Oportunidades de Investimento em Infraestrutura Verde” lançado em 2019, o Brasil tem um potencial de investimento verde estimado em USD 1,3 trilhões. “São as oportunidades que devem ser aproveitadas”, afirmou Oyamada. As finanças verdes oferecem chances de melhorar a perspectiva macroeconômica do país, preencher lacunas de financiamento e cumprir compromissos relativos às mudanças climáticas.

 

Como os palestrantes anteriores, Oyamada reforçou a importância do RH como protagonista nessa agenda, “é preciso ter um grande sponsor, senão ela não se sustenta”. A Governança Corporativa é o conjunto de boas práticas de gestão e planejamento, o Conselho é o guardião dessas práticas – da construção da ponte entre o presente e o futuro.

 

Ele ainda mostrou alguns gráficos com as empresas brasileiras mais responsáveis em ESG em 2021, destacando que o Boticário figura no segundo lugar. E alguns recortes de notícias publicadas nos veículos de comunicação com o tema ESG. “Quem não rezar a cartilha do ESG, não vai atrair investimentos e não vai reter pessoas”, finalizou.

 

Foto: Fábio Ortolan

 

 



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